Cronologia

 A Guerra Civil Espanhola serviu como um ensaio geral para a Segunda Guerra Mundial e foi o primeiro conflito a ser coberto pelos media.

1931

O triunfo da Segunda República

As eleições favoráveis à esquerda do fim de abril de 1931 puseram fim à ditadura do general Primo de Rivera, a que se seguiram a fuga do rei Afonso XIII e a proclamação da primeira democracia espanhola. Dava-se início à Segunda República em Espanha, presidida por Niceto Alcalá-Zamora até 1936.

A coligação republicano-socialista que assumiu o poder apresentou um programa para a reforma trabalhista e agrária, assim como intenções de separar a Igreja do Estado e de despolitizar o Exército.

A defesa acérrima da destruição da propriedade privada, do catolicismo e do patronato motivaram a oposição dos grandes proprietários. A população conservadora e religiosa reagiu com desaprovação ao anticlericalismo republicano, que se traduzia em saques e incêndios de igrejas e em perseguições a membros do clero.

1933

A ascensão da fação conservadora

Em novembro de 1933, foi eleita para o governo uma coligação de direita. Os nacionalistas pretendiam o regresso aos dias dourados de Espanha e à lei, à ordem e aos valores tradicionais da família católica.

1934

Fascismo e Resistência

Em outubro de 1934, o partido parafascista CEDA conquistou uma maioria parlamentar no parlamento espanhol. 

Face à redistribuição do poder político pelos conservadores, os operários socialistas nas Astúrias encetaram um movimento grevista. As manifestações e insurreições armadas subsequentes acabaram por se transformar numa revolta revolucionária violenta contra o regime conservador. A rebelião foi reprimida pela Marinha Espanhola e pelo Exército Republicano Espanhol, com o apoio das tropas coloniais de Marrocos, comandadas pelo ainda desconhecido general Francisco Franco. A revolução das Astúrias levou à morte de cerca de duas mil pessoas.

1936

O golpe de Estado

Em fevereiro de 1936, a coligação Frente Popular, constituída por esquerdistas e republicanos, foi eleita para o governo e deu início a uma nova série de reformas, sob a liderança de Manuel Azaña. 

Discurso de José Díaz 

Secretário-Geral do Partido Comunista Espanhol

9 de fevereiro de 1936

"Qué España queremos nosotros? (...) Todo lo que hay de progresivo en la historia de España, lo reivindicamos para nosotros, para el pueblo; todo lo que hay de retrógrado, de criminal, les pertenece a ellos, a Calvo Sotelo, a Gil Robles (...) Para esa caterva queda el lastre que arrastra la España feudal desde hace siglos; para nosotros, la verdadera tradición de la España de la libertad y del trabajo. (...) Somos uno de los países donde el analfabetismo es más pronunciado, y hoy tenemos, además (...) el mayor contingente de tuberculosis. Es la consecuencia de nuestra hambre; es la consecuencia de pasar por delante de las carnicerías llenas de ternera, de toda clase de carne, y no poder comprar ni lo más mínimo para poder alimentarnos (...) ¡Con eso es con lo que queremos terminar! 

(...)

Mientras los campesinos no tengan la tierra que hoy usurpan los terratenientes, mientras a éstos no se les expropie la tierra sin indemnización, para entregarla gratuitamente a los campesinos trabajadores y a los obreros agrícolas, no habrá posibilidad de desarrollar un régimen democrático. Mientras la Iglesia continúe cobrando millones y millones del Estado - mientras no haya una separación rotunda de la Iglesia y del Estado -, y en vez de entregarle a ella esos millones se entreguen para obras públicas, para mejorar la situación del proletariado y de los campesinos, no habrá democracia en el país." 

No campo da oposição, as fações de direita e o exército, temendo a influência da "bolchevização", encetaram uma revolta encabeçada pela Falange, um movimento fascista crescente em que se baseou, posteriormente, o partido com o mesmo nome - a Falange Espanhola.

Na sequência do assassinato de José Calvo Sotelo por Guardas de Assalto republicanos, um golpe de generais liderado por Emilio Mola (à direita) e Francisco Franco estalou a dezassete de julho, com o levantamento militar de Marrocos. Tendo Franco proclamado o "estado de guerra", o movimento militar espalhou-se por toda a Espanha, originando uma divisão política, geográfica e militar do território. A guerra civil eclodiu quando a democracia decidiu fazer frente à ameaça fascista, e durou novecentos e oitenta e oito dias.

Em novembro deste ano, os rebeldes chegaram a Madrid. Apesar da fuga dos líderes republicanos para Valência, o ataque franquista foi frustrado pela ação dos civis e das unidades de milícias resistentes no interior da cidade, o que granjeou a cidade com o título "Madrid, o Túmulo do Fascismo". A oito de novembro, a chegada da 11ª Brigada Internacional e do primeiro carregamento de armas soviéticas reforçou a defesa da capital. A resistência à invasão franquista não impediu que a ela se seguissem bombardeamentos que semearam a destruição pelas ruas Madrid. Entre as armas utilizadas pelos conservadores contavam-se bombas alemãs de quinhentos quilos.

1937

O avanço das tropas franquistas

A sete de fevereiro de 1937, as tropas italianas e espanholas levaram a cabo a detenção e execução em massa dos republicanos no sul de Málaga.

Mussolini convenceu Franco a organizar uma frente ofensiva dupla a Madrid enquanto as tropas italianas atacavam Guadalajara. Contudo, as condições climatéricas adversas e a resistência republicana fizeram com que as forças fascistas saíssem amplamente derrotadas.

A trinta e um de março, com o bombardeamento alemão da cidade basca de Durango, deu-se início ao ataque sistemático a civis como estratégia de guerra.

Em abril deste ano, foi criada a Falange Espanhola de las JONS, o partido único do regime fascista, liderado por Francisco Franco. Resultante de uma fusão dos distintos partidos e movimentos que apoiavam a insurreição militar, a Falange reunia elementos ideológicos e retóricos fascistas, ultranacionalistas, militaristas, tradicionalistas, conservadores, católicos e monárquicos.

Entretanto, as tropas fascistas continuavam a avançar no território resistente. A região basca era predominantemente republicana. Enquanto os rebeldes se aproximavam de Bilbao, que caiu em junho nas mãos dos franquistas, deu-se o bombardeamento de Guernica. Esta estratégia de inculcação de medo e teste de armas, que contou com a intervenção de aviões da Legião Condor alemã, causou mais de 120 mortos. O número exato de óbitos resultantes do bombardeamento nunca chegou a ser determinado.

Bombardeamentos de Guernica

Testemunho de um sobrevivente

"Ao fim da tarde de 26 de abril (...) Estava um dia maravilhosamente claro, o céu estava calmo e límpido. Chegámos aos subúrbios de Guernica por volta das cinco horas. Havia muita agitação nas ruas porque era dia de feira. De repente, ouvimos as sirenes e ficámos aterrorizados. As pessoas corriam em todas as direções e deixavam tudo à procura de proteção, alguns também corriam para as montanhas. Pouco depois, surgiu um avião inimigo sobre Guernica (...) Largou três bombas diretamente sobre o centro. Logo a seguir, vi sete aviões, aos quais se seguiram seis e, depois, mais cinco. Eram todos Junkers. Entretanto, toda a cidade tinha sido tomada pelo pânico (...) Os aviões aproximaram-se voando muito baixo, no máximo a 200 metros de altura (...) Entretanto, mulheres e crianças e velhos atingidos caíam no chão, como moscas, víamos grandes poças de sangue por todo o lado. Vi um velho camponês sozinho num campo, morto por uma rajada de metralhadora. Os dezoito aviões mantiveram-se mais de uma hora sobre Guernica, a uma altura de poucas centenas de metros, largando bomba atrás de bomba. Não é possível imaginar o barulho das explosões e o ruído das casas a desmoronarem-se. Voavam por cima das ruas. Caíram muitas bombas, aparentemente por todo o lado. Mais tarde, vimos as crateras: tinham um diâmetro de dezasseis metros e uma profundidade de oito. Por volta das sete horas, os aviões afastaram-se para longe e, agora, chegava uma nova vaga que, desta vez, voava a grande altitude. A segunda vaga largou bombas incendiárias sobre a nossa cidade martirizada. O segundo bombardeamento durou trinta e cinco minutos, mas foi suficiente para transformar o lugar numa enorme fornalha. Percebi imediatamente qual era o objetivo deste ataque com bombas incendiárias. Pretendia fazer crer ao mundo que tinham sido os próprios Bascos a incendiar a cidade (...)" (WIEGAND, Wilfried, Pablo Picasso, Editorial Sol 90, 2011)

Depois da queda de Bilbao, os fascistas continuaram o ataque a norte, tendo tomado Santander nos finais de agosto.

Apesar das tentativas de retaliação republicanas, as regiões bascas e as Astúrias estavam sob a alçada dos rebeldes em outubro de 1937.

A população civil, condenada aos efeitos colaterais da guerra, sofria com a escassez de alimentos e a inflação.

"A escassez alimentar, que tivera altos e baixos desde o princípio da guerra, atravessava uma das suas fases más. O pão escasseava e os tipos mais baratos estavam a ser adulterados com arroz. O pão que os soldados recebiam, nos aquartelamentos, parecia mais massa de vidraceiro do que outra coisa. O leite e o açúcar faltavam muito e o tabaco era quase inexistente, exceto no que se referia a cigarros caros, de contrabando. Havia uma escassez aguda de azeite, que os espanhóis usavam em variadas coisas, e as filas de mulheres, para o comprarem, eram controladas por guardas de assalto montados que, às vezes, se divertiam empurrando os cavalos em marcha-atrás, para a bicha, e tentando obrigá-los a pisar os pés das mulheres. Um dos pequenos contratempos da época era a falta de trocos. A prata fora retirada da circulação e ainda não havia nenhuma moeda nova para a substituir, de modo que não existia nada entre a moeda de dez cêntimos e a nota de duas pesetas e meia, e todas as notas de valor inferior a dez pesetas eram muito raras. Isso redundava, para os mais pobres, num agravamento da escassez de alimentos. Uma mulher que dispusesse apenas de uma nota de dez pesetas esperava horas numa bicha, à porta da mercearia, e quando chegava a sua vez não podia comprar nada porque o merceeiro não tinha troco e as posses dela não lhe permitiam gastar a nota toda." (ORWELL, George, Homenagem à Catalunha, Antígona, 2019)

1938

O fortalecimento das forças fascistas internacionais

A trinta de abril de 1938, o primeiro-ministro socialista Juan Negrín publicou os "Treze Pontos de Negrín" um programa propagandístico e estratégico através do qual tencionava atrair apoios internacionais e, em última instância, pôr fim à Guerra Civil com uma negociação de paz entre as fações rivais. Este programa conciliador foi recusado por Franco, ignorado pela França e pela Grã-Bretanha, determinadas a permanecer neutras face a este conflito, e desprezado pela União Soviética, que o via como um sinal de franqueza da fação republicana.

Em setembro deste ano, a conjuntura internacional exerceu alguma influência no decorrer dos acontecimentos, uma vez que, na Conferência de Munique, França e Inglaterra concordaram em entregar o território checoslovaco a Hitler.

Em Espanha, Juan Negrín ordenou a retirada das Brigadas Internacionais, na esperança de que Franco retirasse, por seu lado, as tropas italianas e alemãs. Infelizmente, isso não sucedeu. 

Em julho de 1938, a derrota republicana no rio Ebro resultou num total de trinta mil mortos.

1939

A vitória das forças conservadoras

No dealbar do ano de 1939, as forças rebeldes entraram em Barcelona. Centenas de prisioneiros nacionalistas foram retirados das suas celas e fuzilados à pressa pelos republicanos. A maré de refugiados na sequência da queda da Catalunha, em fevereiro, contava com mais de meio milhão de civis republicanos, soldados e brigadistas internacionais. As vagas de refugiados dirigiam-se para o território francês, onde os recebiam com ódio, desconfiança e fronteiras provisoriamente encerradas. A imprensa francesa tinha lançado uma campanha de ódio e terror em que retratava os migrantes como estrangeiros vermelhos, sujos, fugitivos, desertores, delinquentes, propagadores de epidemias e desejosos de desencadear uma revolução comunista em França. Os refugiados eram enviados pelas autoridades francesas para campos de internamento em péssimas condições.

"No dia em que começou o êxodo de Barcelona, em finais de janeiro, ao qual chamariam posteriormente de A Retirada, estava tanto frio que a água se congelava nos canos, e tanto os animais como os carros ficavam pregados ao gelo; o céu, encapelado de nuvens negras, aparentava a coloração de um luto profundo. Foi um dos invernos mais rigorosos de que havia memória. As tropas franquistas aproximavam-se descendo o Tibidabo, e o pânico apoderou-se da população. Centenas de prisioneiros nacionalistas foram arrancados das suas celas e fuzilados à pressa. Os soldados, muitos dos quais feridos, empreenderam uma marcha forçada rumo à fronteira com a França, caminhando atrás de milhares e milhares de civis, famílias inteiras, avós, mães, crianças, recém-nascidos, levando o pouco que podiam, alguns em camionetas, outros de bicicleta, carroça, montados a cavalo ou no lombo de mulas, a maioria a pé, arrastando os seus bens em sacos, uma trágica procissão de desesperados. Para trás deixavam as casas fechadas com os haveres mais queridos. Os animais de estimação seguiam os donos durante algum tempo, mas rapidamente se perdiam, vítimas do alvoroço e da pressa da retirada, ficando para trás." (ALLENDE, Isabel, Longa Pétala de Mar, Porto Editora, 2019)

Em março, o coronel Casado, um comandante do Exército Nacional Republicano, encetou um golpe contra o governo. Os seus avanços foram repelidos por Franco e viu-se obrigado a render-se.

A vinte e sete de março, os rebeldes entraram finalmente em Madrid. No dia um de abril, Espanha encontrava-se totalmente dominada pelos rebeldes e Franco anunciou o fim das hostilidades. Começava, por sua vez, o terror para os republicanos.

"Ainda encadeado pelo clarão revelador da viagem que me escancarava as portas de uma Europa convulsionada e me devolvera à pátria em carne viva, antevisão final do mundo apocalíptico de que os jornais davam diariamente notícia - a Espanha republicana vencida e exilada, os totalitarismos enfáticos e triunfantes por toda a parte, o velho continente ou esfarrapado já ou ameaçado de morte -, tentava traduzir o mais fielmente possível o abalo que sentira naqueles dias decisivos de ávida e dilacerante digressão" (TORGA, Miguel, A Criação do Mundo IV, Coimbra Editora, 1971)

Helena Rodrigues, 12ºB, nº 7
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