Frente de combate
Estima-se que o número total de mortos decorrentes do conflito ronde o meio milhão de mortos, incluindo as vítimas dos fuzilamentos ao longo do conflito, as cinquenta mil pessoas executadas após a vitória franquista, e as vítimas da repressão do pós-guerra.
As condições nas frentes de combate eram degradantes: rodeados por ratos, piolhos e excrementos, os soldados lidavam com os ferimentos, a fome e o frio e assistiam às execuções em massa que tinham lugar em ambas as frentes.
"Mas guardava para si a memória dos ratos e dos piolhos, das fezes, da urina e do sangue, dos camaradas feridos que tinham de esperar horas a fio esvaindo-se enquanto não chegavam os maqueiros, da fome sofrida e dos pratos metálicos com feijões empedernidos, e do café frio; da irracional coragem de alguns, que, indiferentes a tudo, se expunham às balas, ou do terror de outros, sobretudo dos recém-chegados, os mais jovens, os pertencentes à Companhia do Biberão, que, felizmente não calharam na sua Companhia, caso contrário teria morrido de enfado. Muito menos admitia a Roser as execuções em massa perpetradas pelos seus camaradas, de como atavam dois a dois os prisioneiros inimigos, de como os conduziam em camiões a um descampado, onde os fuzilavam sem mais delongas e os enterravam em valas comuns. Nada menos que dois mil, só em Madrid." (ALLENDE, Isabel, Longa Pétala de Mar, Porto Editora, 2019)
A participação de forças internacionais no conflito foi determinante no seu desfecho. Apesar do Acordo de Não Intervenção realizado entre as fações, que proibia a compra e a receção de material de guerra, as suas cláusulas foram violadas.
A Alemanha e a Itália posicionaram-se ao lado das tropas nacionalistas, providenciando armamento e aviões para o transporte do Exército Nacionalista de Marrocos para o continente, o que conferiu uma vantagem significativa às forças franquistas.
Aproximadamente 5 000 efetivos da força aérea alemã serviram na Legião Condor, que proporcionou apoio aéreo para os ataques coordenados e bombardeamentos aéreos a posições republicanas. Para encobrir o fluxo de ajuda económica e militar alemã foi, inclusivamente, criada a HISMA (Hispano-Marroquí de Transportes), uma empresa fachada, a trinta e um de julho de 1936. A ajuda alemã era providenciada em troca de volfrâmio e outras matérias primas.
A Itália fascista providenciou 75 000 elementos do exército, para além dos seus pilotos e aviões.
Espanha converteu-se num autêntico laboratório militar para o teste do armamento que viria a ser utilizado no segundo conflito mundial.
As tropas republicanas eram abastecidas pela URSS. Como eram a força em menor número, tinham uma necessidade acrescida de apoio. Foi-lhes concedido algum por parte do México, da França e dos Estados Unidos da América. A Brigada Lincoln, por exemplo, assumia posições na vanguarda, constituindo a chamada "carne para canhão".
As Brigadas Internacionais enviavam voluntários em defesa da República, que eram recrutados e organizados pela Comintern, a Internacional Comunista. Mais de trinta e cinco mil voluntários acorreram às trincheiras republicanas, muitos dos quais eram exilados das ditaduras fascistas europeias.
No território rebelde, os republicanos e esquerdistas eram presos em condições degradantes ou executados, um processo visto como uma purga necessária para purificar Espanha. Por seu lado, na zona republicana, a violência era dirigida a apoiantes do golpe de Franco: latifundiários, chefes políticos, empresários, oficiais do exército e representantes da Igreja.
"Só
era possível descrever aquelas prisões com uma palavra: masmorras. Em
Inglaterra só recuando ao século XVIII se encontraria alguma coisa comparável.
As pessoas eram fechadas em salas pequenas onde mal tinham espaço para se
deitarem, quando não - e isso era muito frequente - as metiam em caves e outros
lugares escuros. Isto não acontecia como medida temporária; houve casos de
pessoas que estiveram quatro e cinco meses quase sem luz do dia. Como
alimentação, davam-lhes uma dieta repugnante e insuficiente de dois pratos de
sopa, e dois bocados de pão por dia." (ORWELL, George, Homenagem à
Catalunha, Antígona, 2019)