Guernica
Pablo Picasso
Na época que antecedeu a construção deste quadro, Picasso estava em Paris, a trabalhar num mural para a Exposição Internacional de Paris do verão de 1937. Quando soube do bombardeamento de Guernica, abandonou o seu projeto e, a um de maio de 1937, iniciou o de Guernica. Num mês e meio, Picasso produziu cerca de cinquenta esboços e desenhos para o novo quadro, e levou um mês a completar o mural.
A obra que, mais tarde, se tornaria um símbolo da destruição na guerra não atraiu muita atenção na Exposição. Juntamente com ele, estava exposto um poema de Paul Élouard intitulado A vitória de Guernica:
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O artista não permitiu que Guernica fosse levado para Espanha antes que esta voltasse a viver em democracia. Por isso, só em 1981 foi levado para o seu país natal, depois de uma tour que atraiu a atenção do mundo para o conflito. Atualmente, a tela, de fraca qualidade, encontra-se no Museu Rainha Sofia, em Madrid.
As Personagens
Numa fusão de elementos cubistas, expressionistas e surrealistas, convidando à introspeção, são identificáveis nove personagens.
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O touro ou minotauro é o símbolo da destruição, do poder irracional, da escuridão e da brutalidade da guerra. Algumas interpretações associam-no ao fascismo, à violência ou ao próprio Picasso.
Este é o único ser da representação que olha para o público.
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O cavalo, atingido por uma lança e marcado por contorções cubistas na cabeça e no pescoço, é geralmente associado ao povo de Guernica. No entanto, há quem diga que representa o fascismo.
Juntamente com o touro, o cavalo é um importante símbolo da cultura espanhola.
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A lâmpada, no centro de uma espécie de olho, observa de fora os acontecimentos e confere ambiguidade à composição, de modo que não se sabe se é noite ou dia.
A lâmpada pode ser interpretada como símbolo da artilharia moderna que semeou a destruição em Guernica e ilumina o caos abaixo de si.
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Um pássaro quase impercetível, entre o cavalo e o touro, grasna aos céus, representando o sofrimento dos animais.
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A face de uma mulher, semelhante a um espectro, surge a partir de uma janela, como que a transitar de um mundo para o outro. Estende uma vela em direção ao cavalo, iluminando o pânico e a escuridão, num laivo de esperança.
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O homem prostrado no fundo do quadro, com o braço amputado, empunha uma espada partida junto a uma pequena flor no centro da composição, simbolizando a esperança. Os raios no braço simbolizam a flagelação e os braços abertos aproximam a figura à crucificação de Cristo, ao sofrimento e ao sacrifício do Homem.
Existe, ainda, a possibilidade de se tratar de um símbolo do povo espanhol e da República, cujos sonhos de construção de uma nova Espanha jazem, em pedaços, no chão.
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A mulher no extremo direito do quadro, consumida pelas chamas, encarna a dor física e transmite a sensação de um espaço fechado, por se circunscrever a um quadrado.
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No extremo esquerdo da composição, uma mulher clama pela sua vida e pela do filho, numa representação da dor psicológica que se assemelha à Pietà de Miguel Ângelo.
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Por último, observa-se uma mulher de olhar absorto na lâmpada ao centro.
A composição parece ser dividida por um umbral, ao centro, como que estabelecendo um meio de comunicação entre mundos ou espaços, o interior de uma casa e o exterior. O chão lajeado assemelha-se à cobertura do chão do pavilhão espanhol da Exposição Internacional.
A dimensão simbólica da obra
O artista focalizou-se primordialmente em representar o efeito do acontecimento no seu espírito, em detrimento da descrição do facto histórico. A composição reflete a tragédia da guerra e o sofrimento, particularmente o de civis inocentes. A falta de cor, resultante da utilização de uma palete de azul, branco, preto e cinza, juntamente com os contrastes de claro-escuro, intensificam o drama e a severidade do rescaldo do bombardeamento. Picasso recorre a uma linguagem pictórica abrangente, incluindo referências ao ritual das touradas, a superstições populares e a iconografia cristã, patente, por exemplo, na auréola de raios da lâmpada sobre a cabeça do cavalo e nas "linhas da vida" nas mãos abertas das figuras.
O mural de Picasso afirmou-se como um símbolo anti-guerra, assumido pelo próprio como tal: "A minha pintura não tem uma intenção conscientemente propagandística (...), a não ser no quadro Guernica".
"Mi trabajo es un grito de denuncia de la guerra y de los ataques de los enemigos de la República establecida legalmente tras las elecciones del 31 (...). La pintura no está para decorar apartamentos, el arte es un instrumento de guerra ofensivo y defensivo contra el enemigo. La guerra de España es la batalla de la reacción contra el pueblo, contra la libertad. En la pintura mural en la que estoy trabajando, y que titularé Guernica, y en todas mis últimas obras, expreso claramente mi repulsión hacia la casta militar, que ha sumido a España en un océano de dolor y muerte." (Pablo Picasso)