Vale dos Caídos
Projetado pelos arquitetos Pedro Murguruza e Diego Méndez, este monumento de exaltação do poder físico, económico, político, ideológico e espiritual da Espanha franquista foi erguido no Valle de Cuelgamuros, perto de Madrid.
O decreto para o início da sua construção foi publicado a um de abril de 1940, no primeiro aniversário da vitória nacionalista. As dimensões megalómanas do monumento favorecem a sensação de pequenez e de orgulho da população: uma praça de trinta mil metros quadrados antecede a basílica beneditina de Santa Cruz do Vale dos Caídos, um templo de duzentos e quarenta metros de comprimento, escavado no interior da rocha e encimado por uma cruz de cento e cinquenta metros de altura e braços de vinte e quatro metros cada um, reforçando o ideário nacional-catolicista do regime.
"A dimensão da nossa cruzada, os sacríficos heroicos que a vitória encerra, e a transcendência que teve para o futuro de Espanha esta epopeia, não podem ficar perpetuados pelos simples monumentos com que se costumam comemorar em vilas e cidades os feitos salientes da nossa história e os episódios gloriosos dos seus filhos. É necessário que as pedras que se levantem tenham a grandeza dos monumentos antigos, que desafiem o tempo e o esquecimento e que constituam lugar de meditação e de repouso em que as gerações futuras rendam tributo de admiração aos que lhes legaram uma Espanha melhor" (Decreto para o início da construção da Basílica)
A construção deste ícone do período franquista contou com o trabalho de aproximadamente vinte mil republicanos, prisioneiros do regime. Estes eram sujeitos a trabalhos forçados em troca de um salário simbólico ou da redução da sua pena em três dias, por cada dia de trabalho. Muitos destes trabalhadores faleceram durante os trabalhos na obra.
A inauguração da basílica teve lugar a um de abril de 1959, no vigésimo aniversário do fim da Guerra Civil.
"não foi, evidentemente, só mais uma contenda civil, mas uma verdadeira cruzada" (Francisco Franco, discurso de inauguração da Basílica)
Tendo sido inicialmente erguido para idolatrar os nacionalistas e o seu chefe, acabou por se tornar num monumento de reconciliação e homenagem aos caídos em geral. Neste sentido, foram transladados para a basílica os restos mortais de soldados de ambas as fações beligerantes, num total de trinta e quatro mil pessoas, das quais metade não estavam identificadas. Esta trasladação foi alvo de polémica, pois foi realizada sem o consentimento de algumas das famílias dos falecidos.
Apesar da tentativa de alargar o âmbito do monumento à valorização de todos os participantes do conflito civil, os únicos verdadeiramente honrados por ele são, claramente, os franquistas. Nas portas dos túmulos é legível a inscrição "Caídos por Deus e por Espanha", o lema do franquismo.
A basílica albergou, durante muitos anos, os túmulos de Francisco Franco e de José Primo de Rivera. Em outubro de 2019, Franco foi transladado para um cemitério nos subúrbios de Madrid, não sem contestação por parte de alguns grupos da população.